Sl 70 – Ainda que não substitua o texto em si, vamos à introdução, com vistas à interpretação e explicação contextualizada e atualizada, cristologicamente, dos Salmos, que têm em vista o conhecimento e a glória de Deus, em aroma suave, mediante Jesus Cristo. E nEle, na unidade do Espírito Santo, de fé em fé, edificação luteradora das consciências pávidas, exortação de soberbos e empedernidos, e consolo necessário, profícuo, ubérrimo dos corações atribulados.
O Salmo 70 é uma oração contra as pessoas perseguidoras e inimigas da gente crente na Palavra de Deus, lei e Evangelho, que tem como centro, fundamento, alvo a Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Elas, as pessoas inimigas, com mãos e boca, com conselho e vontade, com palavras faladas em tom normal e com gritos, com tudo o que têm e são se levantam contra o salmista, que pede auxílio a Deus. E o faz porque elas querem matar a ele, e assim silenciar a Palavra de Deus em seus lábios, mãos, braços, pernas. E é neste espírito que o Salmo deve ser lido e ensinado: como uma petição por auxílio divino, numa precisão incomum. Deus, em verdade, é o único a quem se pode recorrer nestes contextos em que se está só com a Palavra contra a incredulidade e a impenitência empoderadas e entronizadas, sob um manto de verdade, justiça, direito, que fazem com que o salmista se sinta pobre e necessitado, a tal ponto que pede que Deus se apresse em vir em seu socorro, libertador. E um exemplo vívido é Cristo que é atacado, resumidamente, pela ‘igreja’ e pelo Estado, em conluio por causa do lucro, fama, poder. Na precisão incomum advinda da confusão nos ofícios e atribuições, é vital orar a Deus e buscar Sua presença viva.
A Escritura propõe um ser humano que não só está amarrado, é miserável, cativo, enfermo e morto, mas que, por obra de Satanás, seu príncipe, acrescenta a suas demais misérias a miséria da cegueira espiritual, de modo que crê ser livre, beato, estar solto, ser potente, são e vivo. É que Satanás sabe que se o ser humano soubesse de sua miséria, ele não poderia reter ninguém em seu reino, pois Deus não pode deixar de se comiserar e auxiliar imediatamente quem reconhece sua miséria e clama a Ele, mediante Jesus Cristo, mesmo que o número dos que fazem grande grita dizendo “Benfeito! Benfeito” seja enorme e poderosa.
Como no presente Salmo, ao longo de toda a Escritura, Jesus Cristo é pregado com muito louvor como Deus que está perto das pessoas contritas de coração, de modo que também Cristo testifica em Is 61.1 <> Lc 4.18s., que foi enviado por Deus Pai, em cumprimento da Sua promessa, para pregar, no exercício de Sua incumbência e ofício, o Evangelho aos pobres e libertar oprimidos. Em consequência, a obra de Satanás é reter os seres humanos para que não reconheçam sua miséria, mas presumam que são capazes de fazer tudo que se diz. A obra de Moisés e do legislador, contudo, é o contrário disto, de modo que, por meio da lei, dão a conhecer ao ser humano a sua miséria e, assim, contrito e envergonhado no conhecimento de si mesmo, o preparam para a graça e o enviam a Cristo, para que desta maneira seja salvo, via justificação por graça divina mediante a fé em Jesus Cristo. Portanto, o que se faz por intermédio da lei não é ridículo, e sim muitíssimo sério e necessário.
Por natureza, sem a Palavra e a fé, nós não reconhecemos a nossa miséria diante de Deus. Parte das pessoas alcançadas pelo ministério da Palavra, pela fé, passa a ser vigilante para não se afastar dEle via orgulhosa incredulidade, que se autoempodera a tal ponto que persegue quem, a semelhança do salmista, traz a Palavra da verdade, a bem de circundantes. No abuso de poder e autoridade, o mal imputado e causado se torna mortal, se Deus não se apressa em vir em socorro libertador. Se medos horrendos já suscitam e provocam angústia profunda, pior ainda é o temor de ser morto e não ter alguém que, em continuidade, de modo rotundo, seguro e certo, pregará a Palavra de Deus, para a salvação de ouvintes crentes. Se ela for e estiver perdida, bem como a fé, a rara e incomum, o mundo colapsa, do lar ao Governo.
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